Meu Começo/Princípio da Honra!
Meu Começo/Princípio da Honra!
Desde cedo tive inclinação ao trabalho, e mesmo com os protestos de um dos meus tios e avó, eu conseguia o apoio necessário para trabalhar e ganhar o próprio dinheiro. Pensando bem, não era difícil persuadi-los nessa questão, pois, todas as crianças do meu campo, quando não estavam envolvidos em trabalhos ilegais como o tráfico de drogas e roubos, levavam amendoins, picolés e outros petiscos, até os passageiros espremidos e estressados nos trens e ônibus de Salvador BA. Nós da "classe dos trabalhadores ambulantes infantis", "matávamos dois coelhos, numa cajadada só", enquanto tirávamos o tédio desses trabalhadores, ganhávamos o dinheiro da merenda escolar.
Quando não era isso, ajudávamos as idosas que iam ao mercado contando com nossos "serviços de frete em carrinhos de mãos"; pegávamos suas compras da porta da Cesta do Povo, mercado estatal, e levávamos até as suas residências; eu fiz tudo isso até absorver a mensagem dos missionários que subiram no pequeno altar da Igrejinha do Doron compartilhando conosco suas experiências de vida levando a Palavra de Deus ao mundo; isso me fascinou! Eu era o típico menino que embora não soubesse quase nada da vida, sabia o queria exatamente dela, ser um missionário.
Eu a Dona Ninha e a prima Rose na Igrejinha do Doron. |
Chegou o momento em que acabei trocando o que me dava dinheiro pelo que me dava prazer. Larguei os amendoins, picolés e fretes para me dedicar ao Ministério Itinerante e Trabalhos Evangelísticos. Eu entrava nos mesmos transportes públicos, levando para a mesma classe trabalhadora, algo que também aliviava seus estresses, o alimento para suas almas, a pregação da Palavra de Deus.
Nas portas da Cesta do Povo, mercado estatal, não usava mais carrinhos de mão para transportar compras, agora eu ficava lá, com um exemplar da Bíblia em mãos, pregando para todas as pessoas que se juntavam às filas para pagar pelas suas mercadorias.
Aos 09 anos de idade em um Evangelismo em Massa, como costumávamos chamar o barulho bom que fazíamos na frente da casa das pessoas. |
Eu tinha a Dona Ninha minha avó, sem escolaridade, sem marido, longe de seus pais e irmãos e isolada da sua vizinhança como a maior incentivadora; tudo o que a Dona Ninha tinha de precioso além de nós sua família se resumia na Igrejinha do Doron. Eu sempre sabia está no caminho certo, pois percebia o brilho de seus olhos, revelando o orgulho e satisfação ao ver o neto fazer além daquilo que sempre sonhou pela Obra e Reino de Deus. Mesmo tendo o "estereótipo" de crente perfeita, de tão simples, parecia invisível aos olhos de toda sua congregação. Isso nunca a desmotivou!
Esse ano, 2.021, Dona Ninha faz 89 anos de idade, e quando comemoramos seu aniversário, comemoramos também suas vitórias sobre muitas enfermidades mortais. Dona Ninha superou a morte de 70% de seus filhos, embora fraca por conta da idade permanece lúcida e com tudo isso, não perde a oportunidade de falar do amor de Deus.
Em 2.019 quando estive em minha cidade natal e tive o privilégio de dirigir com ela pelas ruas de Salvador, enquanto fazia, me emocionava ao vê-la usar as mesmas ferramentas de sempre (folhetos da sua igreja), para em silêncio, transmitir seus valores às pessoas. Um gatilho mental acionado pelo mesmo brilho que a trinta anos atrás programou minha mente para fazer o que faço hoje, me fez reviver tudo que escrevo hoje nesse artigo.
Amo andar com minha avó pelas ruas com os vidros do carro abaixados, só para vê-la se divertir, fazendo o que sempre amou. Os 10 anos que passei revoltado com Deus, com a Igreja e com tudo que me lembrasse o evangelho, fez com que Dona Alzira perdesse muitas noites de sono. Quando caí em si e liguei para ela depois de tanto tempo, em vez de perguntar como eu estava, falar de saudades, ou me dar broncas por ter sumido, as primeiras palavras dela foram: _"Del, Jesus te ama e quer te salvar!"
Eu um mês antes de completar os 15 anos de idade, pela igrejinha do Doron, sendo Batizado nas Águas. |
Aos 15 anos de idade dei início, mesmo sob os protestos de meus pastores, com o adolescente Humberto, primeiro parceiro de "evangelismo pessoal", ao trabalho que mais tarde viemos a chamar "Batalhão de Jesus". O Batalhão de Jesus, um grupo formado por evangelistas amadores, porém, apaixonados pela causa do evangelho, nascido enquanto levávamos pessoas à igreja local, embora não tenha recebido apoio dos seus membros e liderança, recebeu de pessoas de outras denominações evangélicas e consequentemente, com um tempo, veio a se tornar um grupo "interdenominacional", evangelizando pessoas em diversos bairros de Salvador. (risos). Não me ensinaram a respeitar o "Princípio do Processo" e isso me custou todos os cargos na Igrejinha do Doron, inclusive o que mais amava, o de professor na Escola Bíblica Dominical, classe de adolescentes.
Crescemos tanto que chegamos a ser umas 30 e 40 pessoas, com tesouraria, secretária, uniforme missão, visão e valores. Eu muito leigo, embora não entendesse nada sobre administração e contabilidade, me ví cercado pela primeira vez na vida, por pessoas qualificadas me orientando e chamando de líder.
Vendíamos acarajés na porta da Igrejinha do Doron e usávamos o dinheiro para fazer uniformes e carteirinhas. Embora não reconhecidos por nenhuma igreja existimos e fizemos um trabalho lindo. No início os transportes coletivos de Salvador eram nosso campo missionário, mas pouco antes de o grupo se diluir já falávamos em hospitais e presídios. Grato a Jesus pela vida de todos que fizeram parte do Batalhão de Jesus no ano 1.996.
Comentários
Postar um comentário
Obrigado pela contribuição! Todas as mensagens são vistas como feedbacks! Parabéns por ler até o final!